sexta-feira, 7 de maio de 2010

"Precisamos praticar, intencionalmente, por uma hora, um dia ou uma semana, a arte da solidão", Anne Lindbergh, escritora


O RESPEITO AOS TEMPOS INTERNOS
Anne era mãe de cinco filhos, esposa de um herói nacional americano, o piloto Charles Lindbergh. Sua vida era uma sucessão de atividades, sempre contemplando as necessidades dos filhos e do marido. Mas ela também era escritora e precisava do seu tempo para entrar em contato com seu ofício. Por isso, apesar da vida atribulada, ela não hesitava em abandonar tudo para ficar sozinha algumas semanas por ano numa ilha quase deserta na costa leste dos Estados Unidos.

Anne é a prova de que esse momento é possível para qualquer mulher - com mais ou menos dificuldades. Tanto os filhos como o marido sobreviviam perfeitamente sem ela e ainda aprendiam a respeitá-la. E ela fez isso em plena década de 50, quando ainda nem se falava em feminismo, ao menos da forma como o conhecemos hoje.

"É uma lição difícil de ser aprendida hoje em dia - deixar a família, os amigos e praticar, intencionalmente, por uma hora, um dia ou uma semana, a arte da solidão", escreveu Anne Lindbergh. Ela descreveu seu cotidiano na casinha simples à beira do mar, quase sem móveis, com o perfume dos pinheiros penetrando nos aposentos e a janela da sala se abrindo para o oceano como um quadro magnífico. Anne permaneceu imersa em suas experiências sensoriais. "A beleza do mar, da terra e do ar se reveste de um significado especial para mim. Sinto-me em harmonia com o mundo, dissolvida no Universo."

Nesse refúgio, ela escreveu um dos mais belos e poéticos livros já realizados sobre a condição feminina: Presente do Mar (ed. Crescer). Nele, faz uma avaliação serena da sua vida, do fato de ser mulher e das inúmeras possibilidades oferecidas por um relacionamento amoroso.

É dessa maneira, recuperando seu conteúdo mais profundo, que a escritora pode se tornar de novo a doadora, e cuidar do marido e dos filhos. "Se as mulheres acreditassem que um momento de solitude é uma ambição razoável, elas encontrariam um tempo para isso", diz. Mesmo em meio às múltiplas atividades que irão empreender depois, terão mais facilidade em conseguir manter-se tranquilas, pois carregaram suas baterias com energias criativas, restabeleceram seus tempos internos, travaram contato com a natureza e cultivaram a mente e o espírito nos seus instantes de contemplação. E, mesmo sem se refugiar numa ilha, Anne afirma que é possível conseguir esses momentos de pausa no dia a dia. "Fazer o arranjo de um vaso de flores, escrever um poema ou murmurar uma prece são tarefas que podem nos dar uma sensação de quietude num dia tumultuado."

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